domingo, 30 de novembro de 2008

Depois da tempestade vem a goteira

Até uns dias atrás o tempo estava imprevisível. Você saia de manhã pra trabalhar de sol. Chegava no serviço falando do sol e as pessoas achavam que você tava ficando maluco. Bastava olhar na janela novamente, e ele já tinha ido embora. Sabe aquelas pessoas que juram que viram disco voador? Teve um dia que eu fiquei com esta cara: "Eu juro que vi, ele estava bem ali"....
Chegou a fazer todas as estações do ano em um único dia. Eu não arriscava a responder quando alguém me perguntava sobre o tempo por aqui. Levantava ia até a janela olhar. Mas estes eram bons tempos, o pior ainda estava por vir.
Ultimamente, só chove. A única variação é na intensidade da chuva. Na sexta caiu um toró. No meu bairro, daria pra andar de Jet ski, não fossem os carros naufragados. E as corredeiras? Dava pra fazer Rafting! Você que sempre quis praticar esportes radicais mas nunca teve tempo, dinheiro ou um bote de borracha, pode se lançar na mais radical das aventuras proporcionadas pela natureza: sair ou chegar em casa.
Além de todos os efeitos colaterais anunciados na TV, um que eu não esperava era a goteira. O Leandro tava morando no meu quarto de hóspedes a uns dias atrás. Correu o risco de morrer afogado. Na segunda-feira, tinha tanta água, no meu teclado que eu precisei secá-lo com um secador de cabelos. Na terça eu fui avisar ao condomínio que havia o problema. Eu achando que era o "contemplado do mês" e na verdade era apenas mais um na multidão.
O mais ridículo da goteira é você ter que colocar um balde embaixo. Fica aquele barulho a noite inteira "ping, ping, ping", de repente para. Quando você vai quase dormindo vem um "ping" e você acorda de novo. O negócio é desgrilar, fingir que nada está acontecendo, que aquilo não está te incomodando, "-hmmmm, estou quase dormindo novamente"... "ping"! Lá se foi todo o trabalho embora....
O jeito é esquecer a noite mal dormida e ir trabalhar. Eu já tinha notando um barulho estranho no meu carro. Do lado do carona, no banco de trás, uma piscina. Como esta água foi parar ali? Os bancos estavam secos, não havia água em mais lugar nenhum, apenas no chão do carro. Isso só poderia significar duas coisas: a água estava vazando por baixo e isso ia custar caro. Nada como começar o dia visitando o lanterneiro.
Até a velha lei de Murphy anda sofrendo com o mal-tempo. Eu não sabia, mas a água da chuva entra na borracha de vedação do vidro e desce por dentro da porta. Embaixo, tem uma válvula. Esta válvula estava entupida. Não era por baixo e acabou não custando nada. Sai ileso desta vez, mas uma dúvida paira no ar:
- Onde será a próxima goteira?

domingo, 23 de novembro de 2008

A incrível arte de falar demais

A casa do Guilherme é um lugar movimentado. Mulher e três filhos seria impossível não ser. Mas neste dia em particular, a casa estava o maior silêncio. Eu estranhei a calmaria e perguntei:
- Ué, cadê todo mundo?
Pra que eu perguntei? Lá vem a explicação:
- O guilherminho saiu com o primo dele. Lembra do Wagner? Pois é filho do Wagner. Eles moram em São Paulo. Eu fui lá agora esses dias e o menino está de férias. Ai eu levei os dois no shopping e vou lá buscar mais tarde. A Morgana...
- Bicho, se você disser "saiu todo mundo" já responde a minha pergunta.

Existem 3 tipos de pergunta: a aberta, a meio-aberta e a fechada. A pergunta aberta não há uma resposta esperada por quem pergunta. Na fechada você tem as respostas possíveis já imaginada com antecedência. A meio-aberta é um pouco das duas: existe uma resposta esperada mas ela pode ser justificada.
Para algumas pessoas não há esse tipo de distinção. O prolixo sempre vai tratar todas as sentenças como abertas, ou seja, vai falar demais. O Lacônico sempre vai tratá-las como fechadas, e, vai falar o mínimo possível. Tanto a falta quanto o excesso são prejudiciais à comunicação. O ideal é perceber no seu interlocutor o tipo de resposta que ele espera e responder de acordo. Pode dar um pouco mais de trabalho no começo, mas depois que você acostuma, se torna intuitivo e a coisa passa a fluir naturalmente.
Saber dosar o tamanho da sua "falação" pode evitar cenas inusitadas como a que eu vivi uma vez. Parei em um posto de gasolina e fui ao caixa eletrônico sacar dinheiro. Enquanto aguardava a minha vez, cai na bobagem de cumprimentar um senhor que estava a minha frente:
- Bom dia, tudo bem com o senhor?
- Rapaz, estou bem como você nem imagina. Mas se você tivesse feito esta pergunta há uns dois anos atrás, eu não poderia dizer isso...
Sem que eu ao menos mudasse a expressão, ele continuou.
- Eu tive cancer de próstata. Demorei pra descobrir, tive que operar as pressas, resultado: fiquei brocha!
Eu tentava nem, ao menos, respirar pra ver se ele desistia, mas o cara foi em frente...
- Passei mais de ano fazendo quimioterapia e outros tratamentos. Agora há uns 6 meses atrás, eu fiz o implante de uma prótese. Estou me sentindo um adolescente de novo. Arrumei uma mulher 30 anos mais nova do que eu. Tão nova que alguns amigos meus vieram me alertar que ela só estava comigo por interesse.
Eu engolia a seco, me esforçava pra não transparecer o meu constrangimento e o cara seguia em sua história....
- Mas é claro que eu dou dinheiro pra ela! Você acha que baixinho, careca, barrigudo e velho eu ia arrumar uma mulher daquela como? Inclusive...
Neste momento em que a coisa mais sórdida da história ainda estava por vir a máquina (ou Deus, ou sei lá quem) ouviu as minhas preces e concluiu a operação. Ele sacou o dinheiro, colocou na carteira e saiu:
- Bom dia pra você! tudo de bom!
Esperei ele sair e respirei aliviado. Se ele tivesse dito apenas "estou muito bem" teria respondido à minha pergunta.

domingo, 16 de novembro de 2008

Ao VIP a guilhotina

Enquanto esperava na fila de uma boate uma promoter se aproxima e me oferece um cartão de acesso VIP. O cartão permitia pegar a fila VIP (que demorava o mesmo que a outra), ter acesso ao cercadinho VIP (que atende pelo "requentado" nome de "área VIP") e outras quinquilharias fosforecentes que não lembro mais.
Tudo bem, a quem estou querendo enganar? A verdade é que eu nem ouvi o que ela disse. O meu desinteresse era tão claro que ela desistiu da venda, e "deu linha".
Com todo aquele charme e vantagens tão exclusivas, ao alcance de qualquer reles mortal, por que ela perderia tempo comigo? Talvez, pra maior parte das pessoas, o tratamento não seja o mais importante. O simples fato de serem consideradas importantes já satisfaz seus egos.
Na idade média os VIPs atendiam pelo nome de nobres. Naquela época, os títulos nobiliárquicos eram concedidos à pessoas que realizavam algum tipo de préstimo à Coroa. Lutar bravamente ao lado do rei em uma guerra, caçar dragões cuspidores de fogo e até mesmo aceitar uma de suas filhas em casamento podia ser considerado um desses feitos. Os títulos eram hereditários. Nem todo mundo que tinha grana podia entrar pra seleta "panelinha do rei" mas pra quem já estava nela, era deitar e rolar.
No século XIX, no entanto, nobres arruinados acabaram vendendo seus títulos a burgueses endinheirados. Para quem já tinha a grana era possível comprar também o glamour
e ai a coisa começou a descambar.
Iniciou-se a era onde tudo podia ter um preço. De fato, a grande contribuição do capitalismo foi a visão de que se poderia produzir qualquer coisa em uma escala que permitesse oferecê-la a qualquer um. Era o início do processo de democratização dos privilégios. E tudo teve início nas execuções penais.
Naquela época, os bruxos e hereges morriam torrados em fogueiras e a maior parte da gentalha era punida com a forca. A decapitação pelo machado era um previlégio da nobreza. Era preciso um carrasco experiente e o executado deveria permanecer imóvel, ou seja, era inviável aplicar uma pena dessas em larga escala.
Os ideais da Revolução Francesa foram decisivos neste momento. Já que o estado deveria tratar a todos da mesma forma, alguém propôs a unificação das execuções penais. Uma vez que a decapitação era um privilégio, este foi o modo escolhido.
A guilhotina foi a primeira iniciativa concreta de popularizar o tratamento VIP. Tudo bem que naquela época ele não era vendido por promoters gostosas, o custo era um pouco salgado (a vida do infeliz), não dava pra postar fotos do evento no Orkut, mas, quem liga pro tratamento? O importante é ser VIP. Se você pensar bem tem até um certo charme, é o preço do pioneirismo. Existe algo mais VIP do que isto? Dava até pra tirar onda na escola:
- Aê mané, meu pai foi condenado a morte, diz um garoto de forma vibrante.
- Sério?!?! O meu também... Como ele será executado? diz o outro um pouco triste.
- Guilhotinado!!! responde o primeiro cheio de orgulho.
- Maneiro!!! O meu vai ser enforcado mesmo.... diz o segundo, cabisbaixo.
Os dois se despedem e cada um segue o seu caminho. Um deles pensa: "enforcado, é pobre mesmo". Enquanto o outro está revoltado: "g
uilhotinado, que moleque esnobe!!!".
Pra você que sempre pensou na guilhotina como um símbolo da brutalidade do poder de império do estado, saiba que ela foi uma espécie de nivelador social. Para muitos, o único momento de dignidade de uma vida inteira. Talvez até arrancasse suspiros: "Vou morrer como um nobre". Sei lá, não estava lá pra ver. Pra tanta gente que daria o próprio pescoço por um momento VIP eu deixo o recado: Por que não tenta a guilhotina?





domingo, 9 de novembro de 2008

Era pra ser só um mundo falso

Eu tenho um bonsai. A Mara e a Dayse me deram no dia do meu aniversário. No dia não. No dia seguinte. Elas sairam de Cachoeiro pra vir no meu aniversário em Vitória mas acabaram indo parar no show do Victor e Léo. Entendeu? Nem eu, mas vou deixar estas "proezas" de lado e me ater ao tema.
Outro dia o Rafael (não pergunte qual, eu conheço uns 5 ou 6) me passou algumas músicas.
Perdida, entre tantas outras, uma música do Radioheads: Fake Plastic Trees (Falsas Árvores de Plástico). Pelo nome talvez você não conheça. Lembra uma propaganda que tinha de síndrome de down? Dois meninos em um carrocel. Uma música só no violão. Então, essa música. Qualquer coisa procura no you tube, deve ter lá.
O fato é que eu não tava esperando encontrar essa música ali. Comecei a analisar a letra: "Seu regador verde de plástico serve para o falso bonsai de borracha em um falso mundo de plástico". Até aqui eu achei que ele estava descrevendo o cenário de um conto de fadas ou algo assim. Meio surreal, meio, sei lá. Comecei a entrar na onda e deixar a imaginação correr. De onde esse cara tirou esta idéia?
"...que ela comprou de um cara de borracha em uma cidade cheia de planos de borracha para se livrar de si mesma. Isto a desgasta". Delírio, puro delírio. Como eu nunca pensei isso? Lembrei de "Stairway to heaven" (escada para o céu), Led Zeppelin. "Uma mulher que estava convencida que tudo que brilha é ouro e está construindo uma escada para o céu..." Mulheres que vivem em mundos de fantasia. Constroem para si realidades absurdas e se tornam reféns de si mesmas. Quantas pessoas você conhece que são assim? Eu já tinha andado a casa toda umas duas vezes e não tinha passado da primeira estrofe. São muitas idéias novas surgindo ao mesmo tempo. Eu não tava preparado pra tamanha explosão.
A segunda estrofe não é lá tão contundente. Analisei com cuidado antes de chegar a esta conclusão. Nem vou entrar no detalhe aqui. Minha maior surpreza ainda estava por vir. Terceira estrofe: "Ela parece de verdade, ela tem sabor de verdade, meu falso amor de plástico".
- O QUEEEEEE??????? Amor de plástico??? Como assim???
Esquece tudo que eu falei antes. Não havia mundos de sonho ou mulheres fúteis. Estamos tratando de um recalcado, um doente sexual. O cara tem uma boneca inflável. Dessas que se compra em sex shop. Criou um mundo pra ela e a chama de "amor de plástico". O cara conseguiu ir além de todas as fronteiras do nonsense. Eu estava indignado. Como o cara tem uma inspiração dessas? Será que o errado sou eu? Será que sou normal demais?
Mas vamos aos fatos. O que o bonsai tá fazendo nesta história? E os inocentes meninos no carrocel, na propaganda? Que tipo de conspiração é essa que não me chamam pra tomar parte? Fiquei de otário assistindo a banda passar e até hoje não entendi nada. Pra minha sorte, o meu bonsai é de verdade. Suas folhas cairam no inverno e estão crescendo de novo agora. Dizem que é difícil mantê-lo vivo, mas já temos quase um ano de convivência. Foi ai que eu lembrei de uma coisa curiosa: conheço um cara que tem um bonsai de borracha. Será que tem uma mulher de borracha também? Melhor não dizer quem é...

domingo, 2 de novembro de 2008

Sinal dos Tempos

Faltavam 2 meses para terminar 1999. A "notícia da moda" era o Bug do milênio. Do jeito que a coisa era falada, parecia que a falta de dois dígitos nas datas seria o estopim do fim do mundo. Tinha gente prevendo caos em aeroportos e no sistema bancário. Bastava o relógio mostrar 01/01/2000 00:00. Você viu algumas dessas tragédias acontecerem? Na verdade o Bug do milênio já havia sido descoberto pelo menos 10 anos antes. Operações de Leasing e financiamentos de longo prazo efetuados a partir de 1990 (por exemplo) já apresentavam problemas. Os maiores interessados foram afetados primeiro, houve tempo de sobra pra corrigir.
Numa área menos tecnológia, líderes espirituais elegeram
2000 como o ano do apocalipse. Tufões, furacões, tsunamis, enfim, todas as formas de catástrofes naturais dividiriam a cena com anjos trombeteiros enquanto o bem e o mal se esgalfinhariam fazendo todos olharem para o céu.
Alívio ou frustração o mundo não acabou. Será que não? De uns dias pra cá eu comecei a achar que sim. Primeiro foi o atentado de 11 de setembro que deixou muita gente com frio na espinha (pra não dizer com o cú na mão). Até então, pouco conhecido, Oshama Bin Laden surpreende o mundo com o mais ousado ato terrorista da história.
Muito pior que o atentado, foi o que aconteceu depois. Não estou falando da guerra do Afeganistão nem a do Iraque. Estou falando das palavras do Ultra-master-blaster-mega-terrorista. Ele previu a ruína econômica e financeira dos Estados Unidos. Tudo bem que o Tio Sam já andava com o bolso furado há algum tempo. Mas a crise que se abateu agora...Sinal dos tempos!
Não sou economista, sou simplista. A construção civil é o indicador mais básico da economia. O primeiro problema que todo mundo tem que resolver. Quem mora de aluguel, quando sobra uma graninha, vai atrás de um lugar melhor, mais próximo do emprego, na melhor das hipóteses, comprar um imóvel. Quem já tem imóvel está pensando em ampliação, reforma, no pior dos casos, uma "pinturinha" pra dar uma oxigenada. Se o mercado da construção civil da maior economia do mundo ruiu, a crise é grave.
Tentaram pegar o Oshama nas cavernas do Afeganistão com os instrumentos militares mais sofisticados de todos os tempos. Olhamos pro céu, vendo os aviões supersônicos da grande potência militar do planeta tomar "um couro" de um simples mortal. Ou não será um simples mortal? Será que a mão de Allah o protegeu? Será ele o anjo trombeteiro do fim dos tempos? O INRI Cristo que não me ouça, mas o Oshama é bem mais convincente.
Parece que tudo que estava previsto para o ano 2000 está acontecendo. Só que diluido. Os pinguins não param de chegar no território brasileiro, efeito do aquecimento global. Tivemos, nos últimos anos, os piores acidentes da aviação civil, caos nos aeroportos. quem mora em Minas passou a sonhar com a casa a beira mar de uma forma um tanto inusitada:
- Mudar pro Espírito Santo ou Bahia? nada!!! Daqui uns dias o mar vem até a minha porta...
Em meio a este cenário de cumprimento de profeciais e da certeza de um futuro cada vez mais nebuloso, eu fico pensando... Já pensou se o Dunga for o técnico da seleção em 2010? Ai que lascou tudo mesmo...