sábado, 12 de dezembro de 2009

brinquedos

- Ah, foi muito bom ter te encontrado, precisava mesmo falar com você!
- Olá! Quanto tempo! Em que posso ajudar?
- Preciso de um notebook! Mas não pode ser um modelo qualquer não, quero um modelo mais avançado.
- Olha, hoje em dia tem muitas marcas e modelos, dependendo da finalidade pra que você quer....
- Finalidade? Hoje em dia todo mundo tem notebook... se todo mundo tem é por que é útil... se é útil eu quero um também, ora. Por exemplo, meu computador fica no quarto, se eu tivesse um note poderia usar na sala, vendo TV, é massa ficar na Internet vendo TV, você não acha?
- Eu não costumo ver TV. Bem se presta a atenção em uma coisa ou em outra.
- Tem a varandinha também.
- Varandinha?
- É, no apartamento que eu tô morando agora tem uma varandinha. Posso ficar na varandinha tomando um café e trabalhando...
- Café e note não combinam. Outra coisa que não faço: levar trabalho pra casa.
- É, corre o risco de derramar café e estragar. Realmente não é bom arriscar não. Mas tem o mestrado.
- Não entendi. O que tem mestrado a ver com note.
- Poxa, vou precisar de um note pra escrever a tese, levar nas aulas, sei lá, parece que você não quer que eu compre o note.
- Bem, eu não sabia nem que você tava fazendo mestrado.
- Não estou mas estou pensando em fazer. Se eu for realmente fazer o mestrado eu vou precisar de um note ai já vou comprando pra adiantar, entendeu?
- Entendi. Se for pra digitar teses e essas coisas assim você pode pegar um modelo mais em conta.
- Não, eu quero um avançado. Pra eu poder ver filme, baixar músicas, fazer video conferência...
- Tá, você tá querendo um brinquedo. Então vamos lá, tem um modelo que eu conheço que só falta fazer cafezinho e levar o cachorro pra passear.
- Hmmm, é um desses mesmo que eu quero, quanto custa?
- Olha a última vez que eu vi estava em torno de uns R$ 7.000,00.
- É, tá um pouco acima da minha previsão...
- Quanto espera gastar com isso?
- Ah! sei lá! Não tem um outro modelo assim, que não seja muito básico mas que seja um pouco mais sofisticado?
- Sim, ficam na faixa de uns R$ 3.500,00.
- E os modelos basiquinhos, peladinhos, sem muita frescura....
- Por volta de uns R$ 2.000,00, mas tá caindo bastante de preço ultimamente.
- É, vou pensar o que eu vou fazer, até por que eu não to muita pressa. E um Palmtop?
- Você quer um Palmtop ou um Handheld?
- Olha, eu não entendo nada de informática, não sei nem o que quer dizer este nome que você falou.
- Handheld é computador de mão. Palmtop é um modelo de handheld.
- Nossa, essas coisas são complicadas, né? Acha que eu preciso disso?
- Você viveu até hoje sem isso, por que vai precisar disso agora?
- É, não sei. De qualquer forma agradeço sua ajuda. Valeu, estou indo!
Alguns meses depois os dois se encontram novamente.
- Rapaz, sua consultoria aquele dia foi realmente decisiva, muito obrigado mesmo!!!
- Sério? O que você decidiu?
- Cheguei a conclusão que eu não preciso de note nem de handheld. Comprei um SmartPhone. Vem com tudo nele, é touch screen, tem até GPS.
- Legal e tá sendo útil pra você?
- Olha, eu só sei fazer ligação, receber ligação, mandar torpedo e usar a agenda. Tem muita coisa, é muito dificil de mexer.
- E o manual? Já leu o manual?
- Não... Muita coisa pra ler, tenho tempo não. Aos poucos eu vou aprendendo. E também, o que adianta ficar aprendendo um monte de coisa se a maior parte eu nem vou usar?

domingo, 6 de dezembro de 2009

Hemisférios

- Vai, escreve agora!!!
- Agora não dá.
- Dá sim, tem tempo livre.
- Mas vou escrever sobre o que? Não tem inspiração...
- Mas tem tempo, quantas vezes você tem inspiração e não tem tempo?
- A inspiração é importante...
- O tempo também é importante...
- é, mas não dá pra "engarrafar" a inspiração pra hora que tiver tempo.
- Também não dá pra "engarrafar" o tempo pra hora que tiver inspiração.
- Pois é, travou geral.
- Geral nada, só o seu hemisfério, o lado de cá tá funcionando legal.
- Sem o meu hemisfério você consegue escrever?
- Consigo, só não vou saber o que escrever.
- não vai sair nada que preste...
- Eu controlo as mãos, você também não consegue nada sem mim.
- Tá, eu sei, não tô discutindo, só não sei sobre o que escrever. Se você ficar me travando é pior.
- Pior por quê? Não tá saindo nada mesmo.
- Por que se eu estiver tranquilo a inspiração acaba vindo. Queria um café...
- Café pra que? Desde quando café é fonte de inspiração.
- Café não é fonte de inspiração mas ajuda a relaxar, sei lá, é tipo você quando ouve barulho de água
- O que tem quando eu ouço barulho de água?
- Fica com vontade de liberar a bexiga.
- É, realmente, você pode ter razão, talvez precise de uma forcinha.
- Uou! Resolveu concordar comigo? Eu sempre soube que o lado de cá era mais forte
- Forte por quê? Apenas achei o seu argumento convicente. Não quer dizer que um lado seja melhor que o outro só por causa disso.
- É, talvez você tenha razão, mas esse lance de ter um "branco" me deixa meio irritado.
- hu-huuu! agora foi a sua vez de concordar comigo.
- Não se empolgue, eu disse "talvez"!
- Talvez é quase sim.
- Também pode ser quase não, depende do jeito como você fala.
- Você sempre foi metido a entender de tudo, nunca admite que está errado, só de ter dito talvez já tá muito bom.
- Tá certo, você tem razão. Tá melhor assim? De qualquer forma continuo sem saber por onde começar. Fico olhando pra essa folha em branco e não sai nada.
- É verdade, não tá saindo nada. Não sei o que a gente faz...
- Vamos entrar num acordo: a gente usa parte do tempo pra buscar inspiração, depois a gente usa parte do tempo pra escrever, ao invés de discutir vamos cooperar, o que você acha?
- Acho a idéia boa, mas agora não dá mais tempo. Vamos ter que escrever uma outra hora.

domingo, 29 de novembro de 2009

Já entrou pra história?

Ele chega para o segurança que controla a fila e diz:
- Quero entrar pra história!
- Seu nome por favor, diz o segurança enquanto folheia uma imensa lista.
- João Batista dos Santos.
- Um momento... João Alberto... João Batista... Desculpe mas seu nome não está na lista. O único da lista é o Ex-presidente João Bastista de O. Figueiredo. Último governante militar, amante do hipismo, autor da célebre frase: "Eu prendo e arrebento!".
- Não é possível!! A tia Teteca me garantiu que meu nome estaria ai sim. Vê junto ao nome dela, da dona Penha e do Zezinho.
- Zezinho não, diz o homem elegantemente vestido logo atrás dele. Doutor José Antônio Beckerman.
- Zezinho? É você? Quase não te reconheço! Virou doutor? Tem até nome estrangeiro? Por onde Andou?
- Joãozinho, rapaz! Você também mudou muito desde os tempos de escola.
O segurança, então, reconhece os dois
- Caramba! Joãozinho, Zezinho claro que estão na lista sim. Quem não conhece as histórias de Joãozinho, de Zezinho e tia Teteca? Desculpem pelo engano, podem entrar...
Os dois permanecem parados na porta e continuam conversando
- João, me diz, o que fez depois que terminou o ensino médio?
- Rapaz, tive que tomar jeito né!? Formei em engenharia mecânica, fiz 2 pós-graduações, arrumei emprego, casei e me transformei em apenas mais um João. Acordo cedo pra trabalhar, enfrentro trânsito, tenho que cumprir meta de produção e quando chego à noite em casa, tenho que dar atenção à mulher e filhos. E você? Como se transformou em doutor? Tá de carrão! vejo que prosperou bem mais que eu na vida!
- Bicho, ai é que tá. Eu não fiz faculdade, não arrumei emprego, ai fui trabalhar pro Bigode! Lembra dele?
- Sim, claro! O bigode nasceu em berço de ouro, sempre teve amigos influentes...
- Pois é, fui ser motorista particular dele, ele foi eleito senador. Hoje eu moro em um apartamento funcional em Brasília, tenho a limosine do governo à minha disposição, ganho R$ 10.000,00 por mês...
- Mas você fez concurso público?
- Claro que não! Eu apenas puxei o saco da pessoa certa. Ganho muito mais do que muitos médicos, engenheiros, advogados, funcionários públicos da esfera federal, mereço ser chamado de doutor, não mereço?
- Claro doutor, entre! diz o segurança...
- Olha Zezinho, eu acho que não merece não! Acho isso uma grande sacanagem com todo o povo brasileiro. Acho que isto deveria ser investigado pelo conselho de ética do congresso e os responsáveis punidos. Eu me envergonharia de entrar pra história por um motivo desses!!
- Ai é que tá João. As denúncias já foram investigadas mas o conselho de ética votou pelo arquivamento do processo. Não vai dar em nada. Não vai nem entrar pra história, por que daqui uns dias o povo esquece e vota no Bigode de novo.
- Então o que veio fazer aqui?
- Primeiro, eu não entrei na fila, sou VIP. Vim apenas para rever você, Tia Teteca, Dona Penha, eu tenho saudade dos tempos de escola. Elas já chegaram? Pergunta ao segurança.
- Ainda não! Nem confirmaram presença. Ao que sei estão muito velhinhas, e teriam que pegar condução pra chegar até aqui.
- Poxa, se tivesse me falado antes eu teria ido lá buscá-las!
- Mas Zezinho, não é errado usar carro oficial pra assuntos particulares?
- Você não acha que duas senhoras que dedicaram toda sua vida à educação não merecem um pouco de conforto agora no final da carreira?
- Poxa Zezinho, pelo menos você guardou um pouco de humanidade em você. Fico feliz que pense assim!
- Olha na verdade não penso não. Mas a opinião pública pensa. Você fala o que os outros querem ouvir, faz cara de bom moço, dai a pouco surge outra coisa e ninguém mais lembra de nada. Por falar nisso, pode ficar com os méritos do tempo de escola. Quanto menos o meu nome aparecer melhor. Ai pode tirar meu nome desta lista, não vou entrar não! João, vou nessa! Se precisar, me procure. Só não conte a ninguém. Tem coisas que é melhor não entrar pra história. Até mais ver...

Moral: Enquanto você se diverte com as travessuras de joãozinho nos tempos da escola, o Zezinho faz escola com travessuras que ninguém conta...

domingo, 12 de abril de 2009

A cruz e o coelho

Sabe aquele email de um engraçadinho que pergunta: "Por que os Flintstones comemoravam o Natal se eles viviam numa época antes de Cristo?". Esse cara deve se achar muito esperto mas não é. A maioria das datas comemorativas, hoje ligadas ao cristianismo, são anteriores a Cristo. Ao contrário do que muita gente pensa, o judaísmo não foi a única fonte de tradições cristãs. A páscoa talvez seja um bom exemplo. A história de Moisés e o Mar Vermelho ganham um sentido cristão com a morte e ressurreição de Jesus. Porém, vasculhe a bíblia de "cabo a rabo", você não vai encontrar rituais de fecundidade relacionados aos judeus.
No Antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antigüidade ainda o ligavam à Lua, portanto, é possível que ele tenha se tornado símbolo pascal pelo fato da Lua determinar a data da Páscoa.
Ishtar, nome primitivo da deusa Isis, deusa da fertilidade, tinha rituais de caráter sexual, libações e outras ofertas corporais. Um ritual importante ocorria no equinócio da primavera, onde os participantes pintavam e decoravam ovos (símbolo da fertilidade) e os escondiam e enterravam em tocas nos campos. Este ritual foi adaptado pela igreja nascente fundindo-o com a Páscoa judáica/cristã. Outras culturas também relacionavam a primavera, lebres e ovos coloridos à fertilidade e a renovação. As culturas anglo-saxãs cultuavam Ostera, a deusa da primavera, simbolizada por uma mulher que segurava um ovo em sua mão e observava um coelho, representante da fertilidade, pulando alegremente ao redor de seus pés. (este trecho foi adaptado da wikipedia)
O que cabe ressaltar é que o termo fertilidade tem um significado muito diferente do que poderíamos pensar hoje. Está relacionada à natureza, à terra, uma forma de reconhecimento da dependência que o ser humano tem em relação ao meio ambiente como fonte de sustentação. Render homenagens à terra para garantir a alimentação de grandes nações. Ter uma grande nação significava mais gente pra lutar em guerras, construir fortificações, trabalhar em lavouras, ou seja, manter viva e próspera sua cultura e seu povo. Os judeus perseguiam isso como um objetivo crucial: uma nação numerosa como as estrelas do céu. Mas eram pastores nômades, não sabiam prever o clima, não cultivavam grandes plantações por isso não tinham rituais ligados à fertilidade e até condenavam os povos que os realizavam.
Durante muito tempo eu fiquei me perguntando, por que unir personagens tão diferentes na mesma celebração? De um lado, temos Jesus, trazendo uma mensagem espiritual, ligada à ressurreição e ao reino dos céus. De outro, o coelho significando a fertilidade capaz de sustentar grandes nações. Nos tempos de hoje, em que o aquecimento global ameaça a geração de alimentos e, consequentemente, cria a possibilidade de grandes nações famintas, é um bom momento para se pensar no mito em seu sentido original. Até então eu achava que a cruz e o coelho eram símbolos unidos pela casualidade. Mas parece que, sem o coelho, o sentido da páscoa ficaria incompleto. Já percebeu que o "seja feita a vossa vontade" vem logo antes de "o pão nosso de cada dia nos dai hoje"?

Feliz Páscoa a todos!!!

domingo, 5 de abril de 2009

O poder Mulherzinha

Ele sempre a via no elevador. Segurava a porta pra ela entrar, ela agradecia. O máximo que falavam era um bom dia. Era uma sexta-feira, ele estava descendo depois de um longo dia de trabalho e ela entrou.
- Nossa, o final de semana vai ser animado, disse ela.
- Não, esta furadeira estava com o meu amigo. Ele me devolveu hoje. Na verdade o final de semana vai ser um tédio.
- Sério? E eu com tanta coisa pra fazer. Preciso mudar uns móveis de lugar. Nem sei quando vou fazer... moro sozinha... um dia desses eu faço...
Abre a porta do elevador e eles saem. Ela vai na frente em passo acelerado. Ele se aproxima novamente:
- Eu te ajudo a trocar os móveis de lugar.
- Olha, eu agradeço, mas não precisa se incomodar. Você deve ter outras coisas pra fazer.
- Não, não tenho. Não será incomodo nenhum te ajudar, na verdade, será um prazer.
- Poxa, obrigada, já que é assim eu aceito...
No dia seguinte ele está na porta do prédio dela. Interfona, ela abre a porta, sobe e ela está na escada à sua espera. Acostumado a vê-la de uniforme, se surpreendeu ao encontrá-la casual: bermuda, top, pés descalsos e cabelo solto.
- Uou, que transformação!!!
- Como assim?
- Você está sempre tão formal não imagina que você....
- Que eu...
- Que você era tão bonita.
Falou de forma meio involuntária, ficou meio sem jeito mas ela cortou o clima.
- Vamos entrar? Eu fiz um café da manhã pra te esperar.
- hmmm legal, vamos sim...
- Na verdade o que eu precisava era só passar o sofá daqui pra lá e a estante de lá pra cá. Você deve estar achando que eu sou muito mole né? nem são tão pesados assim. Acho que tava era faltando ânimo pra fazer, sei lá...
Tomaram café, ele colocou as coisas do jeito que ela pediu.
- Nossa, obrigada, sem você eu não teria conseguido.
- Que isso, foi um prazer. Há algo mais que se precise fazer por aqui?
Ela pensou um pouco e respondeu:
- É, acho que não.
- Então vamos à praia!
- Como assim?
- Praia, se você está livre e eu estou livre, por que não?
- Hmmm, a idéia é boa, mas tenho minhas coisas pra fazer, tipo lavar roupa, limpar a casa, lavar banheiro. No final de semana eu viro doméstica. Mas se você me convidar para um cinema à noite...
- Está convidada, te pego às oito, pode ser?
- Claro, estarei pronta!!!
- Estou indo então.
Indo buscá-la, a noite, ele se pega pensando nela. Percebe como foi envolvido pelo jeito frágil e delicado, o poder mulherzinha. O melhor ela guardou pro final. Q
uando a vê produzida pra sair é que ele descobre que há, dentro dela, um mulherão...

domingo, 29 de março de 2009

Adeus Iniciativa Cruel

Era a audiência de conciliação do meu único emprego de carteira assinada até hoje. Enquanto esperava, olhava a cara de todo mundo à minha volta. Eu era o único que estava feliz da vida em estar ali. Eu trabalho desde os 14 anos de idade mas nunca tinha tido um emprego formal. Achei que estava na hora de ter um trabalho igual ao de todo mundo, com hora pra entrar, sair, dia certo pra receber, saber o quanto você ganha... Essas coisas que fazem parte da vida normal.
Depois de 5 anos nesta "vidinha", já não aguentava mais. Eu enchergava no mercado uma série de possibilidades, via que ali não havia mais chances de crescimento. Tava na hora de fazer algo novo e eu nem sabia o que ainda. Foi nesta audiência que descobri o que estava errado. Faça as contas comigo e você vai entender o que estou dizendo:
- Você trabalha 11 meses por ano e tem 1 de férias
- O patrão paga 12 salários mais 1 (13º salário)
- O governo te cobra 25% (arredondando pra não complicar) de Imposto de Renda
O patrão paga 13 salários por 11 meses de trabalho, você paga 3 meses de salário só de IR e tem que viver 12 meses com 10 salários. Isto sendo totalmente simplório. Se for colocar tudo na ponta do lápis vai ver que a discrepância é muito maior. Depois você vê tudo que tem que pagar a parte por que o governo não te garante: plano de saúde, escola particular, pedágio, tudo tem que rolar por fora.
Outra coisa que me chocou. Na saída do emprego você recebe FGTS, férias, 13º proporcional, seguro-desemprego, é tanto dinheiro que aparece que não dá pra entender. Se eu ganhasse isso trabalhando teria ficado na empresa mais tempo.
Com alguns meses de liberdade eu tinha muito mais trabalho do que poderia dar conta. Foi a hora de abrir a empresa. Conversei com um amigo de faculdade e ele topou ser meu sócio. Nos 8 anos que fiquei como empresário tive uns 3 ou 4 sócios.
Muita gente sonha abrir o próprio negócio, ser o próprio patrão, ter horário flexível e todas essas baboseiras que falam por ai. Na prática não é nada disso. Você sonha como criança, trabalha como escravo, ganha como peão, sofre pressão de clientes, tem que se preocupar com salários de funcionários, contabilidade, impostos. Uma parafernália de coisas que só causa desgaste.
A única coisa que me manteve tanto tempo na empresa foi a possibilidade de sonhar como criança. A experiência que eu adquiri com projetos, cursos, lidando com pessoas de diversas origens e formações, enfim, com todos os desafios de me manter no mercado me deram muita história pra contar.
Também trouxe efeitos colaterais. Teve uma época que eu virei "workaholic", pensava em trabalho o tempo todo, ficava até tarde trabalhando, não tinha vida pessoal. Minha família e pessoas próximas achavam que eu ia pirar. Mas eu tinha objetivos muito claros e definidos. Depois de ter tentado de tudo e não ter conseguido alcançar meus objetivos, estava na hora de repensar a vida. Sem o sonho passou a ser apenas trabalho. Pra ser apenas trabalho não precisa tanto pepino.
Minha contratação na área pública está marcada para esta semana, dia 02 de Abril de 2009. Curiosamente, minha empresa foi aberta em Abril de 2000. Parece que Abril é o meu mês das grandes mudanças. Ainda não sei como é trabalhar em uma empresa do governo. O que eu sei é que o texto de hoje, mais do que uma crônica, é um adeus à iniciativa privada.

Uma nova vida me aguarda e sei que, pelo menos por algum tempo, será divertido! FUUUUUIIII!!!!

domingo, 22 de março de 2009

Vou sair pra ver o céu

Era um sábado à noite como qualquer outro. Sentado no bar Abertura, próximo a UFES, tomava cerveja com alguns amigos. Logo acima de nossas cabeças um eclipse lunar estava se encerrando. Observando as outras pessoas, percebemos que ninguém olhava pro céu. A gente estava envolvido com o fenômeno desde as seis da tarde. Fomos para o observatório da UFES, acompanhamos o espetáculo desde seu início. Depois fomos beber.
Tudo bem que nem todo mundo ficou sabendo que ia ter o eclipse, nem todo mundo iria se arrancar de casa pra ir observá-lo, mas bastaria olhar pro céu e as pessoas perceberiam que algo diferente estava acontecendo. Se, ao menos, uma pessoa olhasse, comentaria com alguém. As outras pessoas ficariam curiosas e descobririam o que estava acontecendo. Nada...
Observar o céu é uma das coisas mais antigas da humanidade. Os antigos procuravam no céu as respostas para seus dilemas existenciais, o principal deles, o clima. Saber as posições do sol e da lua indicava a chegada e o fim das estações, consequentemente, o momento certo de iniciar as plantações, quando deveriam ocorrer as chuvas, qual o momento certo de colher, evitando os invernos rigorosos e períodos de grande estiagem.
A lua assume diferentes posições celestes a cada 18,6 anos. Foi o que descobriram os antigos moradores da Inglaterra, ainda na idade do Bronze. A construção de stonehenge, o famoso monumento de pedra formando um círculo, era uma espécie de calendário lunar. Construído pra indicar o início e fim das estações, ele marca um momento de transição na história da humanidade: com o fim da era glacial os homens não podiam mais se dedicar à caça, pois as grandes feras tinham sido extintas. Os nômades noturnos se transformaram em agricultores diurnos. A lua deixou de ser o único guia dos homens e estes passaram a se guiar pelo sol também.
Eu sempre gostei de tudo que é relacionado ao universo. Na minha infância eu tinha um livro que falava sobre a conquista espacial, os planetas da via láctea, cometas, asteróides, estrelas e todos os corpos conhecidos que vagam pelo espaço. Até a pouco tempo uma das minhas maiores frustrações era não ter visto o cometa Halley. Sua aparição, no início do século passado, foi tão clara que causou, em diversas pessoas, o temor do fim do mundo. Sua reaparição, já na década de oitenta, era esperada com grande euforia. Eu saia de casa várias vezes a noite com amigos e nada de ver o cometa. Todo dia uma nova expectativa e nada. Até que foi noticiado pela imprensa que o cometa estaria no ponto mais próximo da terra na noite seguinte e que dai em diante ele não poderia mais ser visto.
Acordei de manhã com aquela motivação: é hoje ou nunca, mas logo ao sair de casa pra ir pra escola eu já sabia que seria nunca: o céu tava nublado. Esperamos o dia todo que o céu limpasse, ficamos horas no meio da rua à noite esperando e nada. O céu escondeu o espetáculo e fomos dormir com aquela sensação de ter chegado no cinema depois que o filme já havia acabado.
Agora no final de fevereiro foi a vez do Lulin fazer uma graça parecida. A UFES ia abrir o observatório à visitação nos dias em que o cometa estaria mais nítido. Eu e alguns poucos aventureiros encontramos o vigia dormindo e o observatório fechado: O céu tava nublado de novo. No dia seguinte eu não tive ânimo de ir de novo. No próximo cometa estarei lá. Mesmo que chova canivete aberto!!!!

domingo, 15 de março de 2009

Frases II

Minhas frases do msn continuam fazendo sucesso. Vou publicar mais uma bateria de frases dos últimos tempos. Elas continuam "free to use" mas peço que citem a fonte.

1) Amo quem me ama, mas quem não ama é mais divertido - Depois de ter atravessado toda a Dante Michelini com o carro quase parando e um otário piscando farol pra mim, ao invés de ficar puto eu achei engraçado. Eu tava na faixa do meio, se ele tava com pressa bastava me cortar pela esquerda. Quanto mais ele se estressava, mais devagar eu andava. Me deu vontade de parar o carro e virar amigo dele mas acho que não entenderia a minha atitude....

2) Se a afirmativa assusta, a justificativa espanta - Não peça a alguém pra justificar uma atitude absurda. O absurdo é indiscutível.

3) se fosse fácil, alguém já teria feito - Esta frase é o oposto de "não sabendo que era impossível foi lá em fez", do mesmo jeito que supra-sumo do extra-foda é o contrário de subextrato de pó de merda.

4) melhor acordar com culpa que dormir com vontade - Se você não entendeu essa, deve estar indo dormir com vontade todo dia. Se acordar no dia seguinte com a sensação do dever cumprido, ai você está no melhor dos mundos.

5) se vc sabe a quem culpar, pra que se preocupar? - Tudo que dá errado na sua vida é culpa de alguém. Crise financeira, os problemas sociais do Brasil, o vizinho que esqueceu de tampar a caixa d'água. Enquanto isso as coisas dão errado pra você e você lamenta. Faça as coisas de forma diferente e o mundo reagirá de forma diferente também.

6) Grandes motivos geram grandes soluções, pequenos motivos, grandes problemas - Se você se preocupa com seus objetivos, conseguirá grandes resultados. Se preocupa com pequenos coisas e se deixa abater, terá grandes problemas. Não crie armadilhas pra si mesmo...

7) me segue, eu tô perdido - Essa eu queria transformar em adesivo para carros.

domingo, 8 de março de 2009

A Nova Era do Sapato

Uma vez eu ouvi dizer que os sapatos representam para as mulheres o mesmo que os carros para os homens. Até que eu gostaria de trocar de carro todo ano, mas o máximo que consigo é comprar um par de sapatos de vez em quando, isto é, quando eu preciso. Já pras mulheres, sapato é uma necessidade mais constante. Elas arriscam quebrar a perna em saltos cada vez mais altos e finos com todo charme e elegância.
Ninguém nunca se importou com sapatos masculinos. Não até agora. Eis que um jornalista iraquiano, sem o menor cacuete de estilista francês conseguiu revolucionar esta relação e colocou os
sapatos numa trajetória muito mais vanguardista e arrojada: a testa do Bush.
Ainda não sabemos se isto é uma tendência para as próximas estações, mas realmente foi um marco histórico. Acho que aquele gol que o Pelé não fez na copa de 70 e o sapato que errou o alvo são os dois "quase" mais memoráveis da história. Particularmente, revi o vídeo diversas vezes, na esperança de que, em uma das repetições, o Bush se distraice e tomasse a sapatada.
Não é a primeira vez que o Bush toma uma botinada em público. Alguns outros episódios foram memoráveis também. Tentando bancar o "boa praça" ele fala a um dos jornalistas que participava de uma coletiva de impressa que o dia estava nublado e que ele não precisava usar óculos escuros no jardim da Casa Branca. O jornalista respondeu dizendo que estava de óculos por que era cego...
Outra gafe não menos contundente foi diante do ex-campeão mundial de pesos pesado, Mohamed Ali. O presidente finge desafiar o ex-pugilista, fechando os punhos como boxeador. Sofredor do mal de parkisson, Ali apenas gira o dedo próximo à cabeça como quem diz: "este cara está doido" e esnoba o imbecil.
Já pensou se a moda de sapatos pega? Às vezes eu tenho vontade de adaptar a técnica pra chamar a atenção de garçom
. Nem sempre aquela coisa de ficar agitando os braços como um náufrago à deriva sensibiliza a criatura.

ps: Se quiser arremessar você mesmo um sapato no Bush entre em:
http://bushbash.flashgressive.de/.
A gafe com Mohamed Ali pode ser conferida em http://www.youtube.com/watch?v=6suBw1O5GNo.
Já a memorável sapatada que errou o alvo está em http://www.youtube.com/watch?v=pOqsBRS7lBY.

domingo, 1 de março de 2009

O que eu fiz nas minhas férias

Estávamos almoçando no Tiffany, eu João e Isabella. Um dia comum de uma semana comum no mesmo lugar de sempre, o garçom me pergunta:
- Vai tomar água com gás hoje?
- Sim, pode trazer...
Fiquei extremamente incomodado com a cena, logo eu que sempre sou tão inusitado, sendo 100% previsível.
- É, preciso mudar de bebiba...
- Por quê? Perguntaram os dois
- Estou ficando muito previsível, o cara já até sabe o que eu quero.
- E daí? Qual o problema? Insistem eles.
- Sei lá, eu tenho que ser imprevisível, esqueceram?
Dai a Isa sai com uma pérola:
- Mas é óbvio que você vai fazer algo que ninguém espera. Todo mundo já sabe.
Bem, isso quer dizer que se eu fizer algo 100% comum eu estarei contrariando o óbvio (fazer algo inesperado), e por consequência, surpreendendo a todos, certo? Foi pra fazer raiva em todo mundo que pensa assim que eu resolvi lembrar o tempo que você voltava às aulas e tinha que escrever sobre suas férias.
Eu não tirei férias este ano, não tirei nos 8 anos anteriores. Quando eu era pequeno era mais fácil, eu sempre tirava férias. Naquela época eu não gostava de escrever e achava um saco ter que falar sobre as minhas férias. Aos poucos os desafios vão mudando e chegamos num ponto em que eu tenho um blog semanal e não tiro mais férias.
A idéia era ter um pouco de ócio produtivo, fazer uns ensaios, deixar algumas coisas prontas e o que aconteceu na prática foi exatamente o contrário: me envolvi com outras coisas, nem vi janeiro e fevereiro passarem e quando fui parar pra pensar março já vinha despontando com força e com vontade, logo no finalzinho da passarela do samba.
É curioso lembrar que o mês se chama março em homenagem a Marte, o deus da guerra. No calendário romano este era o primeiro mês do ano. Uma forma de dizer "a guerra vai começar". Nada mais apropriado para um império em constante expansão e que dominou todo o mundo conhecido.
De alguma forma isso ficou no inconsciente coletivo do brasileiro. Mesmo que as reformas geradas pelo calendário Juliano (44 A.C., elegeu janeiro e fevereiro os primeiros meses do ano) sejam anteriores à descoberta do Brasil.
Estou aqui em pleno 28 de fevereiro escrevendo este texto pra ser publicado no dia seguinte. Tudo por força da velha cultura de "depois do carnaval eu vejo isso". Boa ou má notícia, estou de volta! E pra quem acha que o ano está começando pra valer agora, a história do calendário te dá uma desculpa esfarrapada pra ter ficado 2 meses comendo mosca. De qualquer forma, é hora de dar um jeito na vida:

-
Levante seu traseiro gordo daí e mexa-se, seus problemas recomeçaram!!!!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Férias

Um texto por semana. Eu pensei que fosse ser um pouco mais complicado manter o ritmo. Parece que as coisas são tão regulares, tão normais o tempo todo, falar de absurdos cotidianos não deveria ser uma tarefa tão fácil. Realmente tem dias que não dá a menor inspiração pra escrever, não sai nada. Em outros, eu aproveito e escrevo dois ou três textos de uma vez só.
Agora que o ano acabou vou dar uma relaxada. Não que eu esteja amarelando, a verdade é que a maioria dos meus leitores vai estar de férias, em profundo estágio letárgico, longe das lan houses só pensando em sol, mar e cerveja gelada.
Para evitar escrever apenas para satifazer o meu ego, vou aproveitar este período como uma espécie de "ócio produtivo". Para quem nunca ouviu este termo, significa dar uma parada em algo que você faz regularmente para que a mente crie novas possibilidades. Quem trabalha com criação sabe do que eu estou falando, às vezes você fica horas e horas tentando chegar a uma solução e não consegue. Para um instante, vai tomar um café e.... a solução aparece magicamente.
Em um mundo que gira cada vez mais rápido e te obriga a tomar decisões novas para desafios novos, um pouco de ócio faz bem. Recomendo o nadismo, embora não o pratique. Eu aprendi a Meditação Transcendental, é muito mais eficaz. Essas técnicas baratas do ocidente estão longe de serem o "must", mas já quebra um galho.
Logo depois do carnaval eu volto com força total. Antes disso, se me der uma imensa vontade eu até coloco alguma coisa no ar, mas a idéia não é essa. A intenção é dar férias a você que tem que me suportar toda semana com idéias absurdas. Os absurdos nunca dormem, eles estão a solta e pintarão por aqui em 2009, mas, por enquanto, boas férias!!!!