domingo, 28 de setembro de 2008

10 milhas é milho

Antes que você pergunte, 10 milhas corresponde a 16.090 metros. Algumas pessoas te olham como se você fosse um extraterrestre quando você diz que vai correr isso tudo. Outros acham que você simplesmente não vai conseguir. Você diz que está acostumado, que sempre corre na praia mas mesmo assim te olham com aquela cara de "pode deixar, eu vou no seu enterro".
Chamei um monte de gente pra ver a largada. Todo mundo aceita, mas na hora que pensam em acordar cedo no domingo...não foi ninguém. Entre saber se você realmente vai aparecer lá pra correr e ficar em casa babando o travesseiro, o travesseiro sempre ganha.
A corrida começou às 9 h em ponto. Você deve ter me visto na TV. Eu estava de boné e óculos escuros, filmado pelo helicóptero, podia ser qualquer um, mas era eu. O dia estava ótimo pra correr. O tempo nublado, sem sol e sem chuva. Mesma sensação de correr com o ar condicionado ligado.
Saimos de Camburi, atravessamos a ponte, praça dos namorados, Assembléia legislativa, palácio do café. Até ai a corrida é só alegria.
(Percurso da prova - http://www.garoto.com.br/site/site_bra/mini_sites/dezmilhas/sections/mapa.php)
Quando chega a terceira ponte, a coisa fica tensa. Aquela subidinha mata qualquer um. O Massariol me falou isso, ele cansou na subida da ponte. Parou e foi andando. Veio um velhinho, bem velhinho correndo bem devagarinho e passou ele. Eu achei que comigo seria diferente, de certa forma sim. Foram duas gordas que passaram por mim. Cada uma, o dobro da minha largura. Eu decidi que terminaria a prova no balão de oxigênio mas não aceitaria aquilo. Se eu tivesse me preparado um pouco melhor... Um pouco de fôlego vale mais do que um monte de ego...
Depois vem a decida, mas dali pra frente você já não é mais o mesmo. Quando vai chegando no final da Praia da Costa, já em Vila Velha, vem a galera da Marinha do Brasil. Ao longe você ouve os caras cantando e batendo palma. Daqui a pouco "ao perto", logo atrás de você e quando menos espera, te passam. Eu até tentei acompanhar, mas a perna não obedecia mais.
Começa a faltar gás e motivação pra chegar ao final. Eu comecei a pensar um copo de cerveja bem gelado me esperando na chegada, lembrei da lei seca e da multa. Chegando na Henrique Moscoso os moradores estão gritando:
- vai que você chega, está perto!!!
- não desiste não, corre que você chega
Realmente eu olhei pra frente e parecia que todo mundo tava andando na minha frente. Pensei, vou correr e passar todo mundo. Cadê que corre? continuei no mesmo passo de antes, torcendo pra não desanimar de novo. Mas realmente faltava pouco. Foi dobrar a última curva e ver a linha de chegada a frente, tudo mudou. Não sei se era a palavra "CHEGADA" ou o enorme Baton de chocolate acima. Parece que te puxa, que te atrai. Fiz a prova em 1 h e 41 m, fiquei em 1671 de 2444. O último lugar chegou em 3 h 18 m. Mas chegou! E você que nem correu?
(classificação oficial, meu número 4147 - http://www.garoto.com.br/site/site_bra/mini_sites/dezmilhas/sections/resultados.php)
Ano que vem estou lá de novo, vão?

domingo, 21 de setembro de 2008

Tá certo ou tá enjambrado?

Outro dia eu chego no self-service pra almoçar e o que eu encontro? Camarão com chuchu. Tem cabimento? O IBAMA tinha interditar o restaurante e dar uma surra em quem faz uma sacanagem dessas. Deveria, inclusive, ter uma lei punindo esse tipo de desperdício. Camarão tem que ir pra mesa num bobó, risoto, com catupiri, moqueca...
Enjambrar é fácil, desenjambrar, nem sempre. Tem um monte de coisas enjambradas por aí a fora que você acostuma e nem percebe que está torto. Sabe esta história de chamar mulher bonita de avião? Tudo por causa de uma música de Tom Jobim chamada Triste. Olha só que rima "triste":
- sua beleza é um avião, demais pra um pobre coração.
O cara veio rimando solidão, paixão, avião e coração. Dá até um frio na barriga pensar que uma outra palavra terminada em "ão" poderia ter sido usada. Mas a "bola da vez" foi o avião.
Mesma sorte não deu a musa daquela pérola da música sertaneja. "Esperando na Janela", de Cogumelo Plutão. Olha isso:
- Você é a escada da minha subida, você é o amor da minha vida.
Na boa, dos riscos de tomar pedrada, o menor. Imagina a cena: você andando calmamente e aquele mulherão, de parar o trânsito, vem passando. Você olha pra ela e diz:

- Uou! essa mulher é um avião!
Ou você seria inoportuno ao ponto de exclamar:
- Você é a escada da minha subida!
Uma vez eu voltava de São Paulo pra vitória. Sentado na poltrona do corredor, do outro lado, um cara de quase 2 metros de altura e uns tantos de circunferência. Não sei precisar ao certo as medidas, mas o que o cara tinha de grande, ele tinha de gordo. O único jeito dele "caber" no acento era reclinando o pouco que a cadeira permite. Realmente, até hoje, eu não vi diferença entre a cadeira na posição vertical ou reclinada. Deu o momento da decolagem, a aeromoça foi pedir educadamente ao cidadão em questão para colocar a cadeira na posição vertical. Ele tentou argumentar, ela não aceitou. Eu vi que a parada ia terminar em barraco, os dois tinham suas razões e ambas, forte o suficiente. Acabou que o cara fez o que qualquer pessoa de juízo teria feito: prendeu a respiração, colocou a cadeira na posição de decolagem, esperou a aeromoça sair de perto, voltou a cadeira pra posição reclinada e pronto!
Já comeu caranguejo alguma vez? De cara eles te dão um martelo de madeira. É muita força pra pouco resultado. Falta pouco suar. Os orientais têm por filosofia não agredir o alimento durante a refeição. Por isso as peças de Sushi e Sashimi do restaurante japonês já vem cortadas do tamanho certo e você come de Hashi (palitinho). Imagina o que deve ser isso aos olhos orientais: você saindo na porrada com o caranguejo.

Existem coisas que enjambram quando são usadas de forma errada, na hora errada ou no lugar errado. Na guerra do Golfo, por exemplo, os americanos tiveram que fazer ajustes nos uniformes dos soldados. As botas foram desenhadas para a guerra do Vietnã, e por isso, tinham furos para sair a água dos rios e terrenos alagados daquele país. Ao enfrentar o deserto, as botas enchiam de areia e dificultavam a progressão do exército. O melhor exemplo, no entanto, foi quando o governo do estado resolveu construir os colégios Polivantes, no início da década de 80. O projeto foi copiado de algo que dava muito certo nos Estados Unidos. A escola era construída com um pátio interno para ser mantida aquecida, apesar dos ventos gelados e as janelas abriam na vertical, para que a neve escorresse por ela e não acumulasse. Como sempre acontece com as obras públicas no Brasil, esqueceram de licitar a neve e os ventos gelados, logo, os colégios polivalentes fazem um calor insuportável. Principalmente na cidade onde eu morei, no interior do Espírito Santo. Lá só tem três estações: a do trem, o inferno e o verão.
Como dá pra perceber essa discução dá pano pra manga. Mas um negócio que me deixou bolado foi quando eu comentei sobre a música do Jobim, não lembro com quem, e o cara falou:
- Tá enjambrado não, tá certo. O Tom não foi gênio por acaso. Ele sabia o que tava falando...
- É mesmo? Por que você acha isso? perguntei
- Bicho, mesmo os aviões tem lá seus pneuzinhos.


Concertou? Sei lá, acho que enjambrou de vez...

domingo, 14 de setembro de 2008

Megalomaníaco!?!? Eu!?!?

Ninguém se acha megalomaníaco. Ninguém escolhe ser. Mas um dia você descobre que é, e daí? Por um lado, há um certo alívio. Explica parte das cagadas que você fez ao longo do tempo. Por outro você vai ter que aprender a conviver com ela.
A prova mais cabal da minha veio na aula de Administração Geral. Já ouviu falar em Pirâmide de Maslow? Elenca as necessidades humanas das mais básicas às mais "sofisticadas". Começa com as fisiológicas, segurança, passa por sociais e de estima e culmina na auto-realização.
Eu olhei aquele quadro e não me vi. Este é o primeiro sintoma da megalomania: Os padrões universais nunca servem pra você. De fato, o megalomaníaco obsessivo-compulsivo só vê um ponto da pirâmide: Auto-realização. Foi nessa hora que eu lembrei de Cazuza e aquela refrão começou a tocar no fundo da cachola: "...meu heróis morreram de overdose...".
Os meus heróis também não se veriam no esquema. Acho que nenhum deles morreu de causas naturais. Nunca vou esquecer o Steven Tyler (vocalista do aerosmith), quando perguntado a respeito do sucesso avassalador da banda e a quase aniquilação dos componentes, ele respondeu: "É impossível criar sem se auto destruir". Meu olho até brilhou na hora.
Eu achei que fosse conquistar o mundo com um site de negociação de mármore e granito. Não foi difícil convencer um monte de gente que a minha idéia era boa. Montei uma empresa, consegui subsídio do centro tecnológico do setor, até do maior provedor de acessos do estado, a extinta EscelsaNet. Os parceiros fariam aportes econômicos e financeiros pra alavancar o negócio. A idéia era após um ano fazer o site ter receita suficiente para pagar lucros aos parceiros. É claro que não deu certo, né! Na época todo mundo achava que ia dar. Assisti uma palestra uma vez (uns 2 ou 3 anos depois do naufrágio) o cara mostrando a quantidade de empresas que surgiram e acabaram na mesma corrida pelo El dourado (pobres megalomaníacos, se ferraram e eu também).
A auto realização inverte a pirâmide, do contrário, a anorexia não ia matar ninguém. O Michael Jackson teria parado de fazer cirurgias plásticas enquanto ainda tava parecido com um ser humano. O Ronaldinho teria encerrado a carreira enquanto ainda tinha joelho e o Airton, parado antes da Tamburelo. A megalomania é exponencial. Tende ao infinito. Primeiro você quer fazer algo bem feito. Depois quer ser o melhor da sua rua, da sua cidade, do seu pais e quando conquista o mundo, até o mundo fica pequeno demais pra você.
Eu conheço um monte de megalomaníacos. Logicamente, nenhum tão bom quanto eu. Este é outro sintoma, a megalomania alheia sempre parece "fichinha" diante da sua. O único que eu "respeitava" era o Guilherme. Não dá pra falar sobre este tema sem falar dele. Nunca vou esquecer quando ele disse: "Eu me achava muito presunçoso, agora me acho perfeito". Passei algum tempo refletindo sobre o assunto e acabei tendo que reajustar os meus conceitos pra poder competir com a dele. (A gente era adolecente, me dá um desconto também né!!!). O cara casou, teve filhos e, segundo ele, deixou a "mania de grandeza" de lado.
Talvez Maslow esteja certo. Faça uma base larga e sólida e vá subindo aos poucos. Cuide bem de si, dos outros, do ambiente e mesmo que ninguém diga, um dia todos reconhecerão o seu valor. Estou nessa fase agora de querer tudo a seu tempo, dar valor às coisas simples. Estou gostando, espero que dure. Dure pelo menos até eu ter outra idéia mirabolante pra conquistar o mundo....

domingo, 7 de setembro de 2008

Ela disse, Ele disse...

Ele a viu saindo do metrô. Foi atrás. Se apresentou, gastou seu melhor português, seu melhor trejeito, sua melhor cantada.
Ele disse: Vamos jantar?
Ela disse: Vou pensar.
Ele disse: Posso te ligar?
Ela disse: Não tenho celular.
Ele disse: msn, email, telefone de casa ou trabalho?
Ela disse: não vou te dar...
Ele disse: como faço pra te achar?
Ela disse: sei lá....

Ele recuou mas não desistiu. Talvez uma outra oportunidade. Ele se despediu e saiu.
ela disse: sempre passo por aqui neste horário.
ele disse: amanhã te espero aqui.

Ele a encontrou de novo, telefonaram, marcaram sairam. No meio do jantar, resolveram beijar e ai rolou o clima.
Ele disse: vão pra outro lugar?
Ela disse: que outro lugar?
Ele disse: minha casa ou sua casa?
Ela disse: eu pra minha, você pra sua.
Acabaram indo mesmo pra casa dele.

Ele disse: adorei a noite.
Ela disse: você ronca.
Ele disse: eu te amo.
Ela disse: eu te ligo.

Ligar, ligou. sairam de novo, muitas vezes. Ele achou que era o momento.
Ele disse: você é a mulher com quem eu sempre sonhei.
Ela disse: não durmo direito a noite.
Ele disse: Quer casar?
Ela disse: não vai dar.
Ele disse: Por que será?
Ela disse: Homem só serve pra trocar móveis de lugar.
Ele disse: por que aceitou sair?
Ela disse: pra distrair
Ele disse: Você não é nada do que eu pensei!
Ela disse: Eu sei.
Ele disse: Então pra mim não dá mais!
Ela disse: Vai em paz!
Ele disse: Você é sempre assim?
Ela disse: tudo tem um fim. Adeus...
Ele disse: graças a Deus.