domingo, 29 de março de 2009

Adeus Iniciativa Cruel

Era a audiência de conciliação do meu único emprego de carteira assinada até hoje. Enquanto esperava, olhava a cara de todo mundo à minha volta. Eu era o único que estava feliz da vida em estar ali. Eu trabalho desde os 14 anos de idade mas nunca tinha tido um emprego formal. Achei que estava na hora de ter um trabalho igual ao de todo mundo, com hora pra entrar, sair, dia certo pra receber, saber o quanto você ganha... Essas coisas que fazem parte da vida normal.
Depois de 5 anos nesta "vidinha", já não aguentava mais. Eu enchergava no mercado uma série de possibilidades, via que ali não havia mais chances de crescimento. Tava na hora de fazer algo novo e eu nem sabia o que ainda. Foi nesta audiência que descobri o que estava errado. Faça as contas comigo e você vai entender o que estou dizendo:
- Você trabalha 11 meses por ano e tem 1 de férias
- O patrão paga 12 salários mais 1 (13º salário)
- O governo te cobra 25% (arredondando pra não complicar) de Imposto de Renda
O patrão paga 13 salários por 11 meses de trabalho, você paga 3 meses de salário só de IR e tem que viver 12 meses com 10 salários. Isto sendo totalmente simplório. Se for colocar tudo na ponta do lápis vai ver que a discrepância é muito maior. Depois você vê tudo que tem que pagar a parte por que o governo não te garante: plano de saúde, escola particular, pedágio, tudo tem que rolar por fora.
Outra coisa que me chocou. Na saída do emprego você recebe FGTS, férias, 13º proporcional, seguro-desemprego, é tanto dinheiro que aparece que não dá pra entender. Se eu ganhasse isso trabalhando teria ficado na empresa mais tempo.
Com alguns meses de liberdade eu tinha muito mais trabalho do que poderia dar conta. Foi a hora de abrir a empresa. Conversei com um amigo de faculdade e ele topou ser meu sócio. Nos 8 anos que fiquei como empresário tive uns 3 ou 4 sócios.
Muita gente sonha abrir o próprio negócio, ser o próprio patrão, ter horário flexível e todas essas baboseiras que falam por ai. Na prática não é nada disso. Você sonha como criança, trabalha como escravo, ganha como peão, sofre pressão de clientes, tem que se preocupar com salários de funcionários, contabilidade, impostos. Uma parafernália de coisas que só causa desgaste.
A única coisa que me manteve tanto tempo na empresa foi a possibilidade de sonhar como criança. A experiência que eu adquiri com projetos, cursos, lidando com pessoas de diversas origens e formações, enfim, com todos os desafios de me manter no mercado me deram muita história pra contar.
Também trouxe efeitos colaterais. Teve uma época que eu virei "workaholic", pensava em trabalho o tempo todo, ficava até tarde trabalhando, não tinha vida pessoal. Minha família e pessoas próximas achavam que eu ia pirar. Mas eu tinha objetivos muito claros e definidos. Depois de ter tentado de tudo e não ter conseguido alcançar meus objetivos, estava na hora de repensar a vida. Sem o sonho passou a ser apenas trabalho. Pra ser apenas trabalho não precisa tanto pepino.
Minha contratação na área pública está marcada para esta semana, dia 02 de Abril de 2009. Curiosamente, minha empresa foi aberta em Abril de 2000. Parece que Abril é o meu mês das grandes mudanças. Ainda não sei como é trabalhar em uma empresa do governo. O que eu sei é que o texto de hoje, mais do que uma crônica, é um adeus à iniciativa privada.

Uma nova vida me aguarda e sei que, pelo menos por algum tempo, será divertido! FUUUUUIIII!!!!

domingo, 22 de março de 2009

Vou sair pra ver o céu

Era um sábado à noite como qualquer outro. Sentado no bar Abertura, próximo a UFES, tomava cerveja com alguns amigos. Logo acima de nossas cabeças um eclipse lunar estava se encerrando. Observando as outras pessoas, percebemos que ninguém olhava pro céu. A gente estava envolvido com o fenômeno desde as seis da tarde. Fomos para o observatório da UFES, acompanhamos o espetáculo desde seu início. Depois fomos beber.
Tudo bem que nem todo mundo ficou sabendo que ia ter o eclipse, nem todo mundo iria se arrancar de casa pra ir observá-lo, mas bastaria olhar pro céu e as pessoas perceberiam que algo diferente estava acontecendo. Se, ao menos, uma pessoa olhasse, comentaria com alguém. As outras pessoas ficariam curiosas e descobririam o que estava acontecendo. Nada...
Observar o céu é uma das coisas mais antigas da humanidade. Os antigos procuravam no céu as respostas para seus dilemas existenciais, o principal deles, o clima. Saber as posições do sol e da lua indicava a chegada e o fim das estações, consequentemente, o momento certo de iniciar as plantações, quando deveriam ocorrer as chuvas, qual o momento certo de colher, evitando os invernos rigorosos e períodos de grande estiagem.
A lua assume diferentes posições celestes a cada 18,6 anos. Foi o que descobriram os antigos moradores da Inglaterra, ainda na idade do Bronze. A construção de stonehenge, o famoso monumento de pedra formando um círculo, era uma espécie de calendário lunar. Construído pra indicar o início e fim das estações, ele marca um momento de transição na história da humanidade: com o fim da era glacial os homens não podiam mais se dedicar à caça, pois as grandes feras tinham sido extintas. Os nômades noturnos se transformaram em agricultores diurnos. A lua deixou de ser o único guia dos homens e estes passaram a se guiar pelo sol também.
Eu sempre gostei de tudo que é relacionado ao universo. Na minha infância eu tinha um livro que falava sobre a conquista espacial, os planetas da via láctea, cometas, asteróides, estrelas e todos os corpos conhecidos que vagam pelo espaço. Até a pouco tempo uma das minhas maiores frustrações era não ter visto o cometa Halley. Sua aparição, no início do século passado, foi tão clara que causou, em diversas pessoas, o temor do fim do mundo. Sua reaparição, já na década de oitenta, era esperada com grande euforia. Eu saia de casa várias vezes a noite com amigos e nada de ver o cometa. Todo dia uma nova expectativa e nada. Até que foi noticiado pela imprensa que o cometa estaria no ponto mais próximo da terra na noite seguinte e que dai em diante ele não poderia mais ser visto.
Acordei de manhã com aquela motivação: é hoje ou nunca, mas logo ao sair de casa pra ir pra escola eu já sabia que seria nunca: o céu tava nublado. Esperamos o dia todo que o céu limpasse, ficamos horas no meio da rua à noite esperando e nada. O céu escondeu o espetáculo e fomos dormir com aquela sensação de ter chegado no cinema depois que o filme já havia acabado.
Agora no final de fevereiro foi a vez do Lulin fazer uma graça parecida. A UFES ia abrir o observatório à visitação nos dias em que o cometa estaria mais nítido. Eu e alguns poucos aventureiros encontramos o vigia dormindo e o observatório fechado: O céu tava nublado de novo. No dia seguinte eu não tive ânimo de ir de novo. No próximo cometa estarei lá. Mesmo que chova canivete aberto!!!!

domingo, 15 de março de 2009

Frases II

Minhas frases do msn continuam fazendo sucesso. Vou publicar mais uma bateria de frases dos últimos tempos. Elas continuam "free to use" mas peço que citem a fonte.

1) Amo quem me ama, mas quem não ama é mais divertido - Depois de ter atravessado toda a Dante Michelini com o carro quase parando e um otário piscando farol pra mim, ao invés de ficar puto eu achei engraçado. Eu tava na faixa do meio, se ele tava com pressa bastava me cortar pela esquerda. Quanto mais ele se estressava, mais devagar eu andava. Me deu vontade de parar o carro e virar amigo dele mas acho que não entenderia a minha atitude....

2) Se a afirmativa assusta, a justificativa espanta - Não peça a alguém pra justificar uma atitude absurda. O absurdo é indiscutível.

3) se fosse fácil, alguém já teria feito - Esta frase é o oposto de "não sabendo que era impossível foi lá em fez", do mesmo jeito que supra-sumo do extra-foda é o contrário de subextrato de pó de merda.

4) melhor acordar com culpa que dormir com vontade - Se você não entendeu essa, deve estar indo dormir com vontade todo dia. Se acordar no dia seguinte com a sensação do dever cumprido, ai você está no melhor dos mundos.

5) se vc sabe a quem culpar, pra que se preocupar? - Tudo que dá errado na sua vida é culpa de alguém. Crise financeira, os problemas sociais do Brasil, o vizinho que esqueceu de tampar a caixa d'água. Enquanto isso as coisas dão errado pra você e você lamenta. Faça as coisas de forma diferente e o mundo reagirá de forma diferente também.

6) Grandes motivos geram grandes soluções, pequenos motivos, grandes problemas - Se você se preocupa com seus objetivos, conseguirá grandes resultados. Se preocupa com pequenos coisas e se deixa abater, terá grandes problemas. Não crie armadilhas pra si mesmo...

7) me segue, eu tô perdido - Essa eu queria transformar em adesivo para carros.

domingo, 8 de março de 2009

A Nova Era do Sapato

Uma vez eu ouvi dizer que os sapatos representam para as mulheres o mesmo que os carros para os homens. Até que eu gostaria de trocar de carro todo ano, mas o máximo que consigo é comprar um par de sapatos de vez em quando, isto é, quando eu preciso. Já pras mulheres, sapato é uma necessidade mais constante. Elas arriscam quebrar a perna em saltos cada vez mais altos e finos com todo charme e elegância.
Ninguém nunca se importou com sapatos masculinos. Não até agora. Eis que um jornalista iraquiano, sem o menor cacuete de estilista francês conseguiu revolucionar esta relação e colocou os
sapatos numa trajetória muito mais vanguardista e arrojada: a testa do Bush.
Ainda não sabemos se isto é uma tendência para as próximas estações, mas realmente foi um marco histórico. Acho que aquele gol que o Pelé não fez na copa de 70 e o sapato que errou o alvo são os dois "quase" mais memoráveis da história. Particularmente, revi o vídeo diversas vezes, na esperança de que, em uma das repetições, o Bush se distraice e tomasse a sapatada.
Não é a primeira vez que o Bush toma uma botinada em público. Alguns outros episódios foram memoráveis também. Tentando bancar o "boa praça" ele fala a um dos jornalistas que participava de uma coletiva de impressa que o dia estava nublado e que ele não precisava usar óculos escuros no jardim da Casa Branca. O jornalista respondeu dizendo que estava de óculos por que era cego...
Outra gafe não menos contundente foi diante do ex-campeão mundial de pesos pesado, Mohamed Ali. O presidente finge desafiar o ex-pugilista, fechando os punhos como boxeador. Sofredor do mal de parkisson, Ali apenas gira o dedo próximo à cabeça como quem diz: "este cara está doido" e esnoba o imbecil.
Já pensou se a moda de sapatos pega? Às vezes eu tenho vontade de adaptar a técnica pra chamar a atenção de garçom
. Nem sempre aquela coisa de ficar agitando os braços como um náufrago à deriva sensibiliza a criatura.

ps: Se quiser arremessar você mesmo um sapato no Bush entre em:
http://bushbash.flashgressive.de/.
A gafe com Mohamed Ali pode ser conferida em http://www.youtube.com/watch?v=6suBw1O5GNo.
Já a memorável sapatada que errou o alvo está em http://www.youtube.com/watch?v=pOqsBRS7lBY.

domingo, 1 de março de 2009

O que eu fiz nas minhas férias

Estávamos almoçando no Tiffany, eu João e Isabella. Um dia comum de uma semana comum no mesmo lugar de sempre, o garçom me pergunta:
- Vai tomar água com gás hoje?
- Sim, pode trazer...
Fiquei extremamente incomodado com a cena, logo eu que sempre sou tão inusitado, sendo 100% previsível.
- É, preciso mudar de bebiba...
- Por quê? Perguntaram os dois
- Estou ficando muito previsível, o cara já até sabe o que eu quero.
- E daí? Qual o problema? Insistem eles.
- Sei lá, eu tenho que ser imprevisível, esqueceram?
Dai a Isa sai com uma pérola:
- Mas é óbvio que você vai fazer algo que ninguém espera. Todo mundo já sabe.
Bem, isso quer dizer que se eu fizer algo 100% comum eu estarei contrariando o óbvio (fazer algo inesperado), e por consequência, surpreendendo a todos, certo? Foi pra fazer raiva em todo mundo que pensa assim que eu resolvi lembrar o tempo que você voltava às aulas e tinha que escrever sobre suas férias.
Eu não tirei férias este ano, não tirei nos 8 anos anteriores. Quando eu era pequeno era mais fácil, eu sempre tirava férias. Naquela época eu não gostava de escrever e achava um saco ter que falar sobre as minhas férias. Aos poucos os desafios vão mudando e chegamos num ponto em que eu tenho um blog semanal e não tiro mais férias.
A idéia era ter um pouco de ócio produtivo, fazer uns ensaios, deixar algumas coisas prontas e o que aconteceu na prática foi exatamente o contrário: me envolvi com outras coisas, nem vi janeiro e fevereiro passarem e quando fui parar pra pensar março já vinha despontando com força e com vontade, logo no finalzinho da passarela do samba.
É curioso lembrar que o mês se chama março em homenagem a Marte, o deus da guerra. No calendário romano este era o primeiro mês do ano. Uma forma de dizer "a guerra vai começar". Nada mais apropriado para um império em constante expansão e que dominou todo o mundo conhecido.
De alguma forma isso ficou no inconsciente coletivo do brasileiro. Mesmo que as reformas geradas pelo calendário Juliano (44 A.C., elegeu janeiro e fevereiro os primeiros meses do ano) sejam anteriores à descoberta do Brasil.
Estou aqui em pleno 28 de fevereiro escrevendo este texto pra ser publicado no dia seguinte. Tudo por força da velha cultura de "depois do carnaval eu vejo isso". Boa ou má notícia, estou de volta! E pra quem acha que o ano está começando pra valer agora, a história do calendário te dá uma desculpa esfarrapada pra ter ficado 2 meses comendo mosca. De qualquer forma, é hora de dar um jeito na vida:

-
Levante seu traseiro gordo daí e mexa-se, seus problemas recomeçaram!!!!