Eu e Lorena, a gente sempre discute. O tempo todo sobre tudo. Aliás, seria mais fácil enumerar sobre o que a gente concorda. Recentemente, foi a vez da língua portuguesa. Ela te acompanhará até o fim dos seus dias e a única coisa que você pode afirmar é que nunca a conheceu direito. Eu passei a minha vida escolar apanhando da matéria e sendo perseguido pelas professoras que, declaradamente, não gostavam de mim.
O assunto surgiu por causa de um "pôde" que para a felicidade de todos e o bem geral da nação, deixa de ser acentuado a partir de 1º de janeiro de 2009. De fato, as palavras de nossa língua tendem a ser paroxítonas, ou seja, a sílaba tônica é a antepenúltima. Acentuar paroxítonas é um absurdo linguístico concebido por um bando de eruditos que não tem nada pra fazer. O Acento de "pôde" é meramente diferencial, não atende a nenhuma regra que mereça atenção. Agora vai cair. Aproveito pra dizer adeus: "o incoveniente não deixa saudade, pode ir sem pesar, mesmo que vá em boa hora, pra mim já vai tarde".
Não é difícil entender porque eu e a letrada Lorena discutimos desta vez. O "lado" de cada um também parece bastante óbvio. O Oliveira Lima passou 4 meses tentando me convencer que não há exceções no português. Apenas regras. Posso te garantir que ele teve um relativo sucesso. O que existem são regras gerais, regras para os casos que não atendem a estas e casos que são regrados por regras que não atendem a nenhuma das regras anteriores. Basta ter um conhecimento profundo e dedicar sua vida exclusivamente a isso.
Aos que se esforçam para transformar a língua em algo menos complicado, a casa agradece. Mas, o que dizer da corrente de iletrados que tentam complicar as coisas criando novos "caminhos" para a ramificação de problemas? Não estou maluco, eu ouvi esta frase:
- Eu vou estar enviando um email para estar marcando quando a gente vai estar reunindo novamente.
O autor da bela sentença deve se sentir o próximo indicado pra Academia Brasileira de Letras ou o sucessor natural de Rui Barbosa. Mas o estúpido está empregando o tempo verbal de forma completamente errada. Olha isto:
- Eu vou ficar esperando você voltar.
O emprego do gerúndio indica uma ação continuada. Não se aplica a ações estanques, que ocorrerão e acabarão:
- Eu vou mandar o email para marcar a próxima reunião.
Olha como dessa vez nem dá vontade de agredir fisicamente o infeliz. Fica correto e muito mais simples. Mas parece que as pessoas se esforçam em conseguir estas construções fantásticas, operadoras de telemarketing, então, nem se fale:
- Eu vou "estar te transferindo" pro setor responsável e você pode "estar perguntando" para os nossos atendentes quando vai "estar vencendo" a sua fatura.
O Troço impregna na sua cabeça, daqui há pouco você mesmo está pensando:
- Que vontade de "estar mandando" esta criatura ir "estar catando" coquinho nos quintos do inferno.
Outro que me irrita profundamente é o "a nível de". Parece que foi convencionado em acordo internacional: toda frase iniciada por "a nível de" exprime um profundo conhecimento filosófico ou de causa desde que acompanhado de entonação marcante, expressões faciais e gesticulação braçal intensa:
- Eu gostaria de lembra a todos que, a nível de...
Enfim, todo idiota metido a inteligente vai parar uma palestra, reunião ou evento parecido para introduzir uma nova idéia, que ele leu não sabe onde, não sabe por quem e nem tem nada a ver com o contexto atual. Mas o "a nível de" legitima qualquer iniciativa de se exibir ou de parecer inteligente em público.
Para que ninguém ache que eu sou contra a elaboração linguística e a favor da "xulice falada", vou desferir golpes não menos intensos no "tchau-tchau". Você liga para empresas grandes, fala com gerentes de TI, de áreas estratégicas de negócios, fala de assuntos importantes escolhe palavras para dialogar com pessoas de tamanha importância, no final, o cara se despede com um "tchau-tchau". Eu ficaria satisfeito com um "tchau" apenas mas, será que tchau é igual lâmina de barbear: a primeira faz tchan a segunda faz tchun e... tchan-tchan-tchan-tchan. Já pensou na hora que descobrirem que já inventaram o barbeador de 3 lâminas e quiserem aplicar a mesma regra ao tchau?
- Tudo bem, aguardo novo contato. Tchau-tchau-tchau.
Saco isso né. Mas espero que o texto de hoje sensibilize as pessoas. Os vícios linguísticos são tão devastadores que mereciam campanhas na TV.
- Evite o primeiro "a nível de" um vício começa com o primeiro uso.
- eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando... Até quem vende bala em ônibus sabe falar corretamente. Aprenda a usar o gerúndio e evite "estar sendo transferido" para o olho da rua.
Valeu gente!!!
ps: "A nível de" sugestões ou críticas você "pode estar deixando" o seu comentário. Tchau-tchau.
domingo, 5 de outubro de 2008
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5 comentários:
Pôô ... verdade msm ....
um dias desses falei isso com a Vovó (sua mãe) ...
Estava eu na escola ..
quando minha professora estava contando um caso ...
Daí ela olha e fala :
- E vcs acreditam q no onibus estava escrito:"Cuidado, Você poderá estar sendo filmado"
Cara, q isso .. se quem ouve leva um susto imagina quem lê ...
e olha q ela é professora de portugues hein ..
Vlww ..
Júh Néspoli
Acredito que o Brasil não precisa de novas regras gramaticais, se palavras terão acentuação ou não,isso pouco importa.
Acredito que o mais necessário são professores capacitados, motivados com melhores salários.
Se precisa de novas regras para que o presidente aprenda a escrever melhor e falar melhor, ai é outra história...Melhor mesmo seria mudar de presidente;)
Brigadão mano,
Após ler este texto que muito acrescentou a mim mera mortal. Estou no msn e alguém me pergunta,
- Esqueçeu de mim
Eu Respondo
- Eu ia ai mas a reunião foi desmarcada,
A pessoa responde:
- Então quando vem aqui
Eu ia respondendo assim:
_ Ciclano deve estar marcando a reunião para semana que vem... ops
me corrigi a tempo
_ Ciclano deve marcar a reunião para semana que vem....
Se não fosse por este brilhante texto teria cometido este erro liguistico no msn, imagine.... Teria sido um vexame... kakakakkakaka
Anriet
Oi lindinho, como prometido estou aqui para comentar o seu texto.
Bom, concordo contigo em algumas coisas.
Explico, como estudando de letras que sou te aconselho a ler Marcus Bagno, Preconceito Linguístico. É um livro interessante e acho que irás gostar.
Qaunto aos 'erros' de português, te digo seguinte: a Língua é própria de cada falante, é individual.
Por tanto o que estás cometendo é um preconceito linguístico, cada pessoa fala de uma maneira e se faz entender desse modo. Posso dizer que nós, falantes brasileiros, não nos comunicamos de forma 'certa' ou 'errada', concordo contigo quando dizes que 'dói' ao ouvido ouvir determinadas expressões, mas como dito anteriormente, estamos falando de uma língua própria de cada falante. Bom lindinho, não fique chateado comigo, só comentei o que me parece certo.
Ahh, outra coisa:
"nóis fala como nóis qué", desde que me faça entender dessa forma.
Bjs, adoro vc!!!
que chatice hein? papagaio
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